Outubro 16, 2018

Metalogalva monta fábrica no sol das Arábias – Jornal de Negócios

O volume de negócios consolidado da Metalogalva, liderada por Sérgio Silva, ascendeu a 99 milhões de euros em 2017.

António Larguesa
16 de outubro de 2018 às 15:00

 

Oito anos após saltar fronteiras com o “empurrão” da crise em Portugal, a metalomecânica da Trofa junta-se a gigante do Médio Oriente para produzir estruturas metálicas para projectos de energias renováveis.

A Metalogalva está a construir uma fábrica de estruturas metálicas na Arábia Saudita para participar em projectos de energias renováveis em toda a região do Médio Oriente e Norte de África. O investimento está a ser feito em parceria com a gigante Al Babtain, uma sociedade cotada em bolsa que tem quatro vezes a dimensão da metalomecânica da Trofa, e que controla 60% desta “joint-venture”.

Ao Negócios, o administrador António Pedro explicou que esta operação com 70 funcionários avançou depois de “clientes americanos e alemães pedirem uma solução para fabrico local” das componentes, uma vez que, assim, não pagam taxas aduaneiras e a legislação naquelas geografias impõe fortes limitações à importação dos materiais para os parques solares. O primeiro projecto já foi adjudicado e a unidade começa a laborar a partir de Dezembro.

Desde o chão em areia – porque fica no meio do deserto – até começar a produzir, em nove meses temos uma fábrica operacional e a funcionar.  António Pedro, Administrador da Metalogalva

“Desde o chão em areia – porque fica no meio do deserto – até começar a produzir, em nove meses temos uma fábrica operacional e a funcionar”, resumiu o gestor, detalhando que à Metalogalva, que investiu perto de 500 mil euros na compra da participação e aumento de capital, coube a selecção de equipamentos industriais e também enviará nas próximas semanas equipas técnicas, de qualidade e de produção para o arranque da operação.

Esta é a mais recente aventura internacional da empresa criada em 1971 pelos irmãos Adelino e Joaquim Silva, que a última crise em Portugal “empurrou” para o estrangeiro. “Como estamos ligados às infra-estruturas e dependentes de investimento público, exportar e internacionalizar foi uma necessidade”, recordou António Pedro. A estreia, no início desta década, deu-se em França, onde mantém uma delegação comercial (a mesma solução que adoptou na Espanha, no Canadá e no Senegal).

12
Mercados
A Metalogalva tem presença física em 12 países, com unidades industriais em cinco.

No Reino Unido, na Bélgica e na Alemanha somou bases logísticas a esses escritórios de vendas. Além da Arábia Saudita e das cinco unidades nacionais – espalhadas pela Trofa, Vila do Conde e Albergaria-a-Velha -, tem fábricas no Brasil (“joint-venture” 50/50 para projectos de energias renováveis), na Ucrânia e na Argélia, estas duas últimas dedicadas às colunas de iluminação pública.

Com liderança executiva de Sérgio Silva e integrada no familiar Vigent Group, que detém também a Brasmar (processa e comercializa produtos do mar congelados), a Metalogalva emprega 670 pessoas em Portugal e registou uma facturação consolidada de 99 milhões de euros em 2017, mais de 70% através da exportação.

Estados Unidos (22%), França e Alemanha (ambos com 12%) e Bélgica (10%) são os melhores destinos no exterior. E se lá fora as estruturas metálicas para parques solares são o produto mais vendido, os artigos mais vistos pelos portugueses são as colunas de iluminação pública e os postes da REN e EDP.

António Pedro Administrador da Metalogalva

Ir para fora exige uma boa capacidade financeira
Os primeiros fornecimentos são para perder dinheiro e aprender.

Em que assenta a vossa competitividade na frente externa?

Fizemos fortes investimentos nos últimos anos. Para conseguir exportar tivemos de aumentar a qualidade do produto e automatizar as operações. Os EUA, Bélgica ou Alemanha são distantes. Temos o custo logístico, mas só pode ser reduzido até determinado limite. No resto temos de cortar ao máximo e por isso automatizámos os processos e as linhas para reduzir ao máximo a intervenção humana.

Para conseguir exportar, a metalomecânica da Trofa teve de subir a qualidade do produto e automatizar as operações.

A presença local é relevante?
A estratégica de termos operações locais com pessoas locais – não são expatriados – faz diferença junto do cliente. Porque percebem a cultura, falam a mesma língua e conhecem a maneira de trabalhar do cliente. Podem não dominar tão bem o produto, mas para isso, depois, voam daqui os nossos técnicos. Por outro lado, a aquisição de duas empresas de concorrentes [na Bélgica e Alemanha] também nos fez crescer mais rápido. E depois é importante ter equipas que não desistem, pois é difícil uma empresa estrangeira começar num mercado em que enfrenta concorrentes locais. Não se olha só ao preço, mas à logística, ao apoio, à língua. Tivemos de desenvolver essas vertentes.

E qual a maior lição a partilhar com quem arranca lá fora?
Quem vai para fora tem de ter uma boa capacidade financeira porque nos primeiros trabalhos não vai ter logo retorno. Os primeiros fornecimentos são duros, a primeira e a segunda obra vão dar prejuízo, até perceber como ter sucesso. E não se pode desistir nem à 1.ª, à 2.ª ou à 3.ª tentativa, mas ir aprendendo com cada fornecimento e ir melhorando.